Getting your Trinity Audio player ready...
|
A língua é um bicho vivo, mutante, que se adapta e se transforma em cada canto do país. No Vale do Paraíba, essa metamorfose linguística é especialmente rica, com um vocabulário que mistura influências caipiras, urbanas e até um toque de imigração italiana.
Por aqui, um pão duro não é apenas mão de vaca, é “muquirana”, palavra que soa como um insulto e um elogio ao mesmo tempo. Afinal, a muquirana é a arte de economizar cada centavo, um talento quase poético em tempos de crise.
Já um sujeito desagradável não é apenas chato, é “trem ruim”, expressão que evoca o barulho ensurdecedor de um trem descarrilando. E quando alguém está mentindo, não está apenas enrolando, está “contando lorota”, termo que remete aos causos e histórias mirabolantes contadas nas roças.
E para finalizar, uma das expressões mais emblemáticas do Vale: “tá com a macaca”. Não, não se trata de um primata de estimação, mas sim de estar com raiva, irritado, pronto para explodir como um vulcão.
Essas são apenas algumas das pérolas linguísticas que brotam no Vale do Paraíba, um microcosmo cultural que se reflete na forma como as pessoas se comunicam. Afinal, a língua é o espelho da alma de um povo, e no Vale, essa alma é criativa, bem-humorada e, acima de tudo, autêntica.
Então, da próxima vez que ouvir um “trem ruim” reclamando que alguém está “contando lorota” para um “muquirana”, não se assuste. É apenas o Vale do Paraíba expressando sua rica cultura através de suas deliciosas gírias. E se você “tá com a macaca” por não entender nada, relaxa, é só pedir para um local traduzir.