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“Triste Fim de Policarpo Quaresma,” publicado em 1915, é uma obra marcante de Lima Barreto que oferece uma crítica mordaz e contundente à sociedade brasileira do início do século XX. Através da história trágica de Policarpo Quaresma, um patriota fervoroso e idealista, Lima Barreto expõe as contradições e os problemas do nacionalismo exacerbado e da burocracia estatal, enquanto explora temas de identidade nacional e utopia.
Policarpo Quaresma, o protagonista da obra, é um funcionário público e nacionalista ardente que se dedica apaixonadamente ao estudo e à valorização da cultura brasileira. Sua obsessão pelo país o leva a empreender projetos quixotescos, como a tentativa de promover o tupi como língua oficial do Brasil e a implementação de técnicas agrícolas revolucionárias em sua fazenda. Contudo, sua visão utópica e idealista da nação entra em choque com a realidade dura e corrupta da sociedade brasileira.
Lima Barreto utiliza a figura de Policarpo Quaresma para satirizar o patriotismo ingênuo e as falácias do nacionalismo. Através das desventuras de Quaresma, o autor critica a falta de pragmatismo e a cegueira ideológica daqueles que se recusam a ver as falhas e as injustiças de sua pátria. A tragédia de Quaresma é que, apesar de sua devoção e boas intenções, ele é incapaz de provocar mudanças reais em um sistema marcado pela corrupção e pela incompetência.
A crítica social é uma dimensão central da obra. Barreto aborda temas como a burocracia ineficiente, a exploração do trabalhador rural, a corrupção política e a exclusão social. Policarpo Quaresma, com seu idealismo inabalável, é constantemente frustrado pelas forças conservadoras e reacionárias que dominam a sociedade. Sua trajetória revela a dificuldade de promover reformas e o custo pessoal de lutar contra o status quo.
A linguagem de Lima Barreto é direta e desprovida de ornamentos, refletindo seu compromisso com a clareza e a honestidade na representação da realidade. A ironia é uma ferramenta frequente em sua narrativa, utilizada para destacar as incongruências entre o ideal e o real, e para criticar a hipocrisia e a mediocridade da sociedade. A prosa de Barreto, embora aparentemente simples, é rica em significados e repleta de críticas sutis e incisivas.
O título “Triste Fim de Policarpo Quaresma” antecipa o destino trágico do protagonista. A obra segue a deterioração gradual de Quaresma, desde seu entusiasmo inicial até sua desilusão e eventual morte. Sua tragédia é uma metáfora poderosa para a falência dos ideais utópicos quando confrontados com uma realidade implacável. A morte de Quaresma é uma declaração amarga sobre a incapacidade da sociedade de reconhecer e valorizar seus verdadeiros patriotas e reformadores.
“Triste Fim de Policarpo Quaresma” é uma obra-prima da literatura brasileira que combina crítica social, sátira e tragédia para explorar os temas da identidade nacional e do nacionalismo. Lima Barreto, através de sua narrativa envolvente e seus personagens memoráveis, oferece uma reflexão profunda e relevante sobre os desafios e as contradições do Brasil. A obra permanece atual e impactante, um testemunho duradouro da habilidade de Barreto em capturar a essência das questões sociais e políticas de sua época.