Onças-pardas ameaçam animais raros no Brasil devido à expansão da soja: impacto ambiental e soluções

Getting your Trinity Audio player ready...

No contexto da expansão da soja e de um projeto exótico de safári brasileiro, um acontecimento inusitado ocorreu em Mato Grosso do Sul, causando preocupação. Onças-pardas, os maiores felinos carnívoros do continente americano, caçaram e devoraram antílopes que fazem parte da dieta dos leões africanos, em Dourados (MS). Esse incidente ocorreu devido a uma série de eventos incomuns, incluindo a sobrevivência de alguns antílopes após o fechamento do safári e o aumento da produção de soja no Brasil.

Trajano Silva, um agropecuarista que adquiriu os antílopes nos anos 80 para um projeto de reprodução e uso em safári, testemunhou a trágica consequência. Com o fechamento definitivo do safári e a intensificação da produção de soja, as onças-pardas foram forçadas a procurar alimento em territórios cada vez mais reduzidos, resultando no encontro fatal com os escassos antílopes sobreviventes.

A expansão da cultura da soja em Mato Grosso do Sul é notável, abrangendo aproximadamente 4 milhões de hectares, equivalente a quase metade do estado de Santa Catarina. No entanto, esse crescimento veio às custas da redução da vegetação nativa, deixando as onças com menos espaço para encontrar sua alimentação habitual. Assim, elas acabaram voltando sua atenção aos antílopes remanescentes do safári.

Atualmente, os encontros entre onças e agricultores na região de cultivo de soja são cada vez mais frequentes. Em outros municípios do Centro-Oeste brasileiro, como Iguatemi (MS) e Nova Lacerda (MT), foram registrados avistamentos de onças-pardas e onças-pintadas nas plantações de soja. Essas ocorrências são reflexo da expansão maciça da produção de soja no país, que se tornou o maior produtor mundial, ultrapassando os Estados Unidos.

Com um mercado em crescimento, a soja brasileira é utilizada em diversos setores, desde a fabricação de óleo de cozinha até a produção de ração animal, biodiesel, maionese, leites e cosméticos. Em 2022, o país colheu 123 milhões de toneladas de soja, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), ultrapassando a produção dos Estados Unidos. Para atingir esses números, cerca de 40 milhões de hectares de terra foram ocupados pela cultura da soja no Brasil, equivalente a quase dois estados de São Paulo, sem levar em conta outras culturas, como o milho, que também afetam os hábitos dos felinos selvagens brasileiros.

Além da expansão da soja, as onças-pardas enfrentam riscos adicionais, como atropelamentos em rodovias do Centro-Oeste. Organizações não governamentais (ONGs) têm desempenhado um papel importante no monitoramento e reintrodução desses felinos na região do Pantanal, onde a soja também tem se aproximado. O exemplo do Onçafari destaca-se, pois reintroduziu com sucesso um macho de onça-pintada na natureza brasileira em fevereiro.

Diante desse cenário complexo, é crucial buscar soluções para a preservação dessas espécies ameaçadas e a mitigação dos conflitos entre agricultura e conservação da vida selvagem. A conscientização sobre os impactos ambientais da expansão da soja, o desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis e a implementação de medidas de proteção são fundamentais para garantir a convivência harmoniosa entre onças-pardas, outros animais selvagens e a agricultura no Brasil.