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“Memórias de um Sargento de Milícias”, obra de Manuel Antônio de Almeida publicada em 1852, apresenta um retrato singular da sociedade carioca do século XIX, subvertendo as convenções literárias da época. A narrativa, centrada na figura do malandro Leonardo Pataca, rompe com o idealismo romântico ao apresentar um protagonista amoral, oportunista e sem grandes aspirações.
A obra se destaca pela linguagem coloquial e bem-humorada, que aproxima o leitor da realidade retratada. O narrador em terceira pessoa onisciente conduz a narrativa com ironia e sarcasmo, expondo as mazelas e contradições da sociedade carioca da época.
Leonardo, o anti-herói, é um personagem carismático e cativante, apesar de suas ações moralmente questionáveis. Sua trajetória, marcada por pequenos delitos e trapaças, revela a malandragem como estratégia de sobrevivência em um ambiente social marcado pela desigualdade e pela corrupção.
A crítica social presente na obra é sutil, mas contundente. O autor expõe a hipocrisia da elite, a corrupção do sistema judiciário e a exploração dos mais pobres. A malandragem, nesse contexto, surge como uma forma de resistência e crítica aos valores dominantes.
“Memórias de um Sargento de Milícias” é uma obra fundamental para a compreensão da sociedade brasileira do século XIX. O livro nos convida a refletir sobre a formação da identidade nacional, a partir da figura do malandro, que se tornou um ícone da cultura popular brasileira. A obra de Manuel Antônio de Almeida é um convite à reflexão sobre a malandragem como expressão da cultura popular e como crítica social.