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=Números da SBCBM impressionam, porém estudo revela desafios pós-cirúrgicos.
No cenário médico nacional, os dados liberados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) para o ano de 2022 arrebatam a atenção: um total de 74.738 cirurgias bariátricas foram executadas por todo o território brasileiro. O procedimento, elogiado como a tábua de salvação para aqueles que enfrentam a obesidade, não obstante, encontra desafios sérios conforme revelado por uma investigação minuciosa conduzida pela professora Jogilmira Mendes, da respeitável Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
As estatísticas pintadas pela professora Mendes lançam uma sombra sobre o otimismo que circunda as cirurgias bariátricas. Mais de 90% dos indivíduos submetidos a essa intervenção cirúrgica, como desvendou o estudo, eventualmente se encontram novamente engordando. Entre esses, 16% mergulham em um quadro de transtorno de compulsão alimentar leve, enquanto 6% caem no abismo da forma grave desse distúrbio.
“A cirurgia bariátrica controla os números na balança, porém negligencia a complexidade psicológica que incita uma pessoa a adotar a comida como mediadora de seus conflitos. O corpo passa por modificações, mas as raízes emocionais que nutriram comportamentos alimentares disfuncionais podem persistir”, pontua a pesquisadora.
A iniciativa de conduzir essa pesquisa nasceu das experiências acumuladas durante um mestrado em Terapia Intensiva, onde Jogilmira Mendes abordou a qualidade de vida de indivíduos pós-cirurgia bariátrica. Sua vivência como enfermeira assistencial em uma clínica cirúrgica e docente na disciplina de Enfermagem Cirúrgica na UFCG também alimentaram seu ímpeto investigativo.
No âmbito do Doutorado Interinstitucional (Dinter) em Psicologia Clínica, uma colaboração entre a UFCG e a Universidade de São Paulo (USP), o estudo mergulhou fundo. A amostra contemplou 121 pacientes com idades variando entre 18 e 65 anos, predominantemente mulheres (70%), que passaram pela cirurgia bariátrica no Centro de Tratamento Médico e Obesidade do Hospital Samaritano, localizado em João Pessoa, PB. A coleta de dados online, no contexto da pandemia de Covid-19, abrangeu os anos de 2020 a 2022.
Questionários meticulosamente elaborados abarcaram aspectos sociodemográficos e dados clínicos dos participantes. A análise estatística mergulhou nos números do excesso de peso pré-cirúrgico, da perda desse excesso e da subsequente recuperação de peso. A comparação ocorreu em três momentos distintos: antes da cirurgia, no pico da perda de peso e no retorno ao ganho de peso.
As conexões estabelecidas pelas análises ressaltam que, apesar das variações nos transtornos psíquicos (como ansiedade, depressão e alcoolismo) apresentados pelos pacientes, o transtorno de compulsão alimentar emergiu como o elo mais forte com o reganho de peso.
A “lua-de-mel” que sucede a cirurgia bariátrica, estendendo-se por aproximadamente 18 meses após a operação, testemunha uma perda de peso significativa e entusiasmo renovado na busca da saúde. Entretanto, como adverte Mendes, esse período efêmero é seguido por um ressurgimento do apetite, estabilização do peso e, inevitavelmente, o aumento do mesmo.
O estudo, de forma inconteste, argumenta que o sucesso a longo prazo da cirurgia bariátrica está inextricavelmente atrelado a um acompanhamento contínuo proporcionado por uma equipe multiprofissional. Entre as melhorias substanciais estão a mitigação de comorbidades como hipertensão, diabetes e apneia do sono. O caminho para uma solução duradoura emerge, não apenas da intervenção cirúrgica, mas também da atenção integral à complexa teia que conecta a mente e o corpo.