As nossas novelas e as deles

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Os antropólogos estudam a função das novelas na sociedade brasileira e na sociedade mexicana a partir de diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. Em geral, as novelas são consideradas um importante meio de comunicação de massa que reflete e influencia os valores, normas e práticas sociais dessas sociedades.

No contexto brasileiro, por exemplo, as novelas são analisadas como um meio de transmitir e reforçar estereótipos de gênero, classe social, raça e etnia. Os antropólogos argumentam que as novelas brasileiras muitas vezes apresentam personagens femininas em papéis estereotipados de submissão e fragilidade, enquanto personagens masculinos são retratados como dominantes e agressivos. Além disso, as novelas frequentemente representam a classe média e alta como aspiracionais, enquanto a classe trabalhadora e pobre é frequentemente retratada como inferior ou incapaz de alcançar o sucesso.

No México, as novelas são vistas como um meio de explorar as tensões e conflitos sociais, políticos e culturais do país. Os antropólogos argumentam que as novelas mexicanas muitas vezes retratam questões como desigualdade social, violência, corrupção e opressão, refletindo as preocupações e angústias da sociedade mexicana. Além disso, as novelas são consideradas um meio importante de preservar e transmitir as tradições culturais mexicanas, como a música, a dança e a culinária.

Em ambos os contextos, as novelas são vistos como um meio importante de entretenimento e lazer, que muitas vezes desempenham um papel significativo na construção de identidades coletivas e na promoção de um senso de pertencimento nacional. No entanto, os antropólogos também alertam para o potencial das novelas para perpetuar estereótipos e preconceitos, bem como para reforçar desigualdades sociais e políticas.

Situação 1 – Novela brasileira

Novela: “A Dona do Pedaço”

Personagens: Maria da Paz (protagonista), Amadeu (par romântico de Maria da Paz) e Régis (vilão)

Maria da Paz é uma jovem humilde que sonha em ter uma confeitaria de sucesso. Ela se apaixona por Amadeu, um advogado de uma família rival, que também se apaixona por ela. No entanto, a rivalidade entre as famílias acaba fazendo com que Amadeu e Maria da Paz se separem. Anos depois, Maria da Paz se torna uma empresária bem-sucedida, mas se envolve com Régis, um playboy que a seduz e a engana, roubando todo o seu dinheiro.

A história reforça estereótipos de gênero e classe social. Maria da Paz é retratada como uma mulher forte e determinada, mas também como ingênua e vulnerável. Amadeu é retratado como um homem corajoso e honesto, enquanto Régis é visto como um homem egoísta e manipulador. Além disso, a novela apresenta uma visão romantizada da classe média alta e uma visão estereotipada e preconceituosa da classe trabalhadora.

Situação 2 – Novela mexicana

Novela: “La Usurpadora”

Personagens: Paola (vilã), Paulina (protagonista)

“La Usurpadora” é uma novela mexicana que conta a história de duas irmãs gêmeas idênticas: Paulina e Paola. Paola é uma mulher rica e egoísta, que decide trocar de lugar com a irmã para escapar das responsabilidades e do marido. No entanto, quando Paola desaparece, Paulina é forçada a assumir a identidade da irmã e enfrentar as consequências.

A história reflete as tensões e conflitos sociais do México. A novela apresenta uma visão crítica das elites mexicanas, que são retratadas como corruptas e sem escrúpulos. Além disso, a novela questiona as expectativas sociais em relação às mulheres mexicanas, que muitas vezes são vistas como submissas e dependentes dos homens. Paulina é uma personagem forte e independente, que desafia as expectativas sociais e luta por seus direitos. No entanto, a antropóloga também alerta para o fato de que a novela apresenta uma visão estereotipada e simplista da sociedade mexicana, ignorando a diversidade e a complexidade do país.

Embora “A Dona do Pedaço” e “La Usurpadora” tenham enredos e personagens bastante diferentes, ambas as novelas têm em comum o fato de que são produtos da cultura popular de seus respectivos países e desempenham um papel importante na construção de identidades coletivas e na promoção de um senso de pertencimento nacional. No entanto, também há diferenças significativas nas abordagens das duas novelas em relação a questões sociais, políticas e culturais.

Enquanto “A Dona do Pedaço” é uma novela que retrata a sociedade brasileira contemporânea, com ênfase na desigualdade social, na violência e nos estereótipos de gênero, “La Usurpadora” apresenta uma visão crítica das elites mexicanas e questiona as expectativas sociais em relação às mulheres. Ambas as novelas refletem as preocupações e angústias de suas respectivas sociedades, mas abordam questões diferentes.

Outra diferença importante é a maneira como as novelas retratam as relações de poder e as dinâmicas sociais. “A Dona do Pedaço” apresenta uma visão estereotipada e preconceituosa da classe trabalhadora, retratando os personagens pobres como inferiores ou incapazes de alcançar o sucesso. Em contrapartida, “La Usurpadora” critica as elites mexicanas, que são retratadas como corruptas e sem escrúpulos.

Em termos de personagens, ambas as novelas apresentam protagonistas femininas fortes e determinadas, mas a maneira como elas são retratadas difere. Enquanto Maria da Paz em “A Dona do Pedaço” é retratada como ingênua e vulnerável, Paulina em “La Usurpadora” é uma personagem mais assertiva e independente. Além disso, as novelas apresentam diferentes tipos de vilões: Régis em “A Dona do Pedaço” é um playboy egoísta e manipulador, enquanto Paola em “La Usurpadora” é uma mulher rica e egoísta que usa sua posição social para manipular e controlar as pessoas ao seu redor.

Em resumo, ambas as novelas têm um papel importante na cultura popular de seus respectivos países e refletem as preocupações e angústias de suas sociedades. No entanto, a maneira como elas abordam questões sociais, políticas e culturais difere, refletindo as particularidades e desafios enfrentados por cada sociedade.