Análise Crítica da Obra “Quincas Borba” de Machado de Assis

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“Quincas Borba,” publicado em 1891, é uma obra seminal de Machado de Assis, que continua a fascinar e desafiar leitores e críticos. Situada no contexto do realismo brasileiro, a obra é uma exploração profunda da natureza humana, das ironias da vida e das complexidades sociais. Através de uma narrativa que combina humor, filosofia e crítica social, Machado de Assis cria um retrato incisivo e multifacetado da sociedade brasileira do final do século XIX.

O romance gira em torno de Rubião, um modesto professor de Barbacena que herda a fortuna de Quincas Borba, um excêntrico filósofo criador do “humanitismo,” uma paródia das filosofias positivistas e darwinistas da época. O lema “ao vencedor, as batatas” encapsula a essência do humanitismo, uma filosofia que justifica a sobrevivência dos mais fortes em um mundo competitivo e implacável. Rubião, ao mudar-se para o Rio de Janeiro com sua nova riqueza, torna-se uma vítima da própria filosofia que o enriqueceu.

A transformação de Rubião é central para a narrativa de “Quincas Borba.” Inicialmente ingênuo e generoso, Rubião é lentamente corroído pela influência corruptora do dinheiro e do poder. Sua ascensão social é acompanhada por uma progressiva perda de identidade e de valores, refletindo a crítica de Machado de Assis à superficialidade e à hipocrisia da elite urbana. A deterioração mental de Rubião, culminando em sua loucura, serve como uma metáfora para a desintegração moral e espiritual causada pela obsessão com o status e a riqueza.

Machado de Assis utiliza a figura de Quincas Borba, tanto o personagem quanto a filosofia, para satirizar as pretensões intelectuais e as contradições da sociedade brasileira. O humanitismo, com seu cinismo e amoralidade, é uma crítica velada às filosofias que tentam justificar a desigualdade e a exploração em nome do progresso. A ironia e o sarcasmo permeiam a narrativa, desafiando o leitor a questionar as verdades aparentes e a reconhecer as nuances e ambiguidades da condição humana.

A linguagem de Machado de Assis é outra característica notável de “Quincas Borba.” Sua prosa é elegante e precisa, repleta de ironias sutis e de uma profundidade psicológica que revela as motivações ocultas e as fraquezas dos personagens. Machado utiliza a técnica do narrador em terceira pessoa com um tom onisciente e muitas vezes irônico, permitindo uma análise crítica das ações e dos pensamentos de Rubião e dos demais personagens.

A crítica social é um elemento central da obra. Machado de Assis expõe a hipocrisia e a corrupção da elite, bem como a fragilidade das relações humanas baseadas no interesse e na conveniência. A ascensão e queda de Rubião são uma ilustração das ilusões e dos perigos do materialismo e da ambição desmedida. Através de Rubião, Machado de Assis revela a vulnerabilidade e a tragédia do indivíduo comum em uma sociedade implacável e indiferente.

“Quincas Borba” é uma obra-prima da literatura brasileira que oferece uma análise profunda e multifacetada da natureza humana e das complexidades sociais. Através de uma narrativa rica em ironia, ambiguidade e crítica social, Machado de Assis constrói um retrato incisivo e duradouro da sociedade de sua época. A obra continua a ser uma leitura essencial, destacando a genialidade literária de Machado de Assis e sua capacidade de capturar as nuances e as contradições da experiência humana.