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Recentes pesquisas australianas revelam que queimaduras sofridas em casos de violência doméstica são frequentemente mais graves e têm piores desfechos do que queimaduras acidentais. Dados do Registro de Queimaduras da Austrália e Nova Zelândia (Branz) mostram que, entre 2009 e 2022, quase 100 mulheres australianas foram internadas em unidades especializadas devido a queimaduras causadas por violência doméstica, embora os pesquisadores acreditem que este número seja subestimado.
Impacto das Queimaduras por Violência Doméstica
As estatísticas incluem mulheres adultas que necessitaram de cirurgia ou internação prolongada em oito das maiores unidades de queimados do país. Entre essas mulheres, algumas morreram devido aos ferimentos enquanto estavam nas unidades, mas os dados não incluem aquelas que faleceram antes de chegar ao hospital ou que não procuraram tratamento.
Em um estudo maior sobre a violência que envolve queimaduras, foi descoberto que 6.262 mulheres foram internadas em unidades de queimados por períodos superiores a um dia ou precisaram de cirurgia entre 2009 e 2022. Dessas, 157 casos foram atribuídos a violência relacionada a queimaduras, sendo que em 60% dos casos, o perpetrador era um parceiro atual ou anterior, ou um membro da família.
Subnotificação e Subestimação
Yvonne Singer, da Universidade de Monash, que reuniu os dados, destaca que a subnotificação é comum devido ao medo das vítimas de mais agressões e à falta de suporte. Em comparação com mulheres que sofreram queimaduras acidentais, as vítimas de violência doméstica apresentaram queimaduras mais severas em termos de tamanho e profundidade, e tiveram piores resultados em termos de mortalidade, cirurgias e tempo de internação.
Coordenação de Esforços e Respostas Adequadas
Delia Donovan, CEO da Domestic Violence NSW, ressalta a necessidade de incluir os serviços de incêndio nas respostas à violência doméstica e de trabalhar em conjunto com o sistema de saúde para garantir que os dados sobre vítimas de queimaduras sejam utilizados adequadamente.
Entre 2019 e 2021, quatro mulheres e um homem morreram em decorrência de violência doméstica relacionada a incêndios em NSW, além de duas crianças, conforme o Domestic Violence Death Review Team do estado. No entanto, os pesquisadores alertam que os números não refletem totalmente a questão, que inclui ameaças de queimaduras, destruição de propriedades e lesões que muitas vezes não são categorizadas como violência doméstica.
A Necessidade de Mais Pesquisa
Heather Douglas, professora de direito da Universidade de Melbourne, conduziu pesquisas sobre casos envolvendo crimes de incêndio em contextos de violência doméstica e familiar. Ela enfatiza que é necessário mais estudo para entender a real extensão do problema, pois este é um campo negligenciado.
Douglas observa que o uso de incêndio como forma de violência não é surpreendente, visto que pode ser uma arma extremamente poderosa. Casos trágicos como os assassinatos de Hannah Clarke e seus filhos em 2020, e Doreen Langham em 2021, exemplificam a gravidade dessa forma de violência.