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O ser humano é uma espécie afortunada. A maravilhosa (e ainda em grande parte misteriosa) complexidade do cérebro humano dotou-o de fala, linguagem e o poder do pensamento criativo e abstrato. Ao longo de milhares de anos, nossa inteligência nos deu ferramentas e tecnologia, arte e ciência, sociedade e civilização.
1 – Obras de William Shakespeare
Há quem acredite que o Bardo Imortal não escreveu as 39 peças que levam seu nome, alegando falta de educação e desconhecimento do material de origem. No entanto, as evidências para isso são escassas, e o mundo geralmente reconhece Shakespeare como o maior dramaturgo que já viveu. Mais do que meras histórias, as maiores peças de Shakespeare analisam a vida e a morte, o amor e o ódio, a vingança e o perdão, o bem e o mal. Séculos antes de Freud e Jung, Shakespeare separou a psicologia humana, apresentando-a como comédia, tragédia e drama histórico, expressa em linguagem de poder e poesia sublimes. Se a lista fosse maior teríamos também que considerar que Miguel de Cervantes, fica para a próxima.
2 – Paraíso Perdido
Junto com William Shakespeare, John Milton se destaca como um dos gigantes gêmeos da literatura inglesa. No entanto, sua reputação se baseia quase inteiramente em sua obra mais famosa, que gerou um ramo de estudo acadêmico só para si, o grande poema épico ‘Paraíso Perdido’. Com base em seu vasto e íntimo conhecimento da linguagem, da Bíblia, da mitologia grega e romana e da literatura do mundo antigo, Milton criou um dos poemas mais duradouros em inglês. Baseado no Livro de Gênesis, ‘Paraíso Perdido’ se preocupa com a rebelião de Lúcifer e a subsequente expulsão do céu, a criação do mundo e a Queda do Homem. Elevado, nobre, sombriamente majestoso em tom, ‘Paradise Lost’ leva o leitor a uma jornada inspiradora pelo céu, inferno e a terra recém-criada com seu Jardim do Éden, o paraíso perdido por Adão e Eva. Embora escrita em inglês, a estrutura gramatical é baseada na do latim. Uma vez que o leitor se acostumou ao estilo, ele é recompensado com uma visão literária única. O que torna a conquista de Milton ainda mais notável é que ele era totalmente cego, compondo toda a obra em sua cabeça (mais de 10.000 linhas) entre 1658 – 1664, e ditando para suas filhas.
3 – Filosofia de Aristóteles
Aristóteles foi aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Ele era um cientista incomparável, fazendo mais do que tudo antes dele para sintetizar todas as verdades dispersas dos filósofos anteriores. Ele concebeu as quatro causas (formais, materiais, eficientes e finais) – duas das quais ainda são essenciais no método científico moderno, formulou as noções de ato e potência, e foi o primeiro a sistematizar os atos do intelecto e deduzir as regras para pensar e raciocinar corretamente. Sua influência se espalhou não apenas para a cristandade através de São Tomás de Aquino, mas para as terras islâmicas através de Averróis.
4 – Elementos
O segundo item mais antigo desta lista (escrito 300 anos antes do nascimento de Cristo), os “Elementos” de Euclides foi o primeiro relato rigoroso da geometria (recorrendo a obras anteriores e menos rigorosas). Partindo de meros dez axiomas (enunciados que não podem ser reduzidos a outros mais simples), Euclides define pontos, linhas, espaços bi e tridimensionais e os objetos matemáticos que os habitam. A lucidez do estilo de Euclides e a lógica rígida de suas provas fizeram com que ‘Elements’ permanecesse um dos textos padrão sobre geometria até o século XIX, até que definições mais rigorosas de geometria surgissem, juntamente com a descoberta de geometrias não euclidianas. Mais de dois mil anos depois de ter sido escrito, pessoas tão diversas como Abraham Lincoln, Edna St. Vincent Millay e Albert Einstein se inspiraram na obra-prima matemática de Euclides.
5 – Cálculo infinitesimal
O cálculo diferencial e o cálculo integral foram desenvolvidos separadamente por dois homens que não poderiam ser mais diferentes: Isaac Newton era uma companhia reservada, obsessiva e geralmente evitada; a higiene pessoal e até mesmo a alimentação ficaram em segundo lugar em relação ao seu trabalho. Gottfried Leibniz era charmoso, bem vestido, tinha um amplo círculo de amigos e era o queridinho dos círculos intelectuais alemães. Os problemas entre Newton e Leibniz começaram com a questão de quem descobriu o cálculo primeiro. Em 1675 Leibniz usou o cálculo integral pela primeira vez, mas não publicou seus resultados até 1684. Newton já havia desenvolvido métodos diferenciais e integrais em 1666 (que ele havia empregado em seu trabalho sobre gravitação), mas não publicou até 1693 A publicação de Leibniz e a insistência de colegas levaram Newton a publicar apressadamente seus próprios resultados. Inicialmente foram mais ou menos cordiais quanto à descoberta mútua, mas rapidamente se tornaram inimigos, situação agravada pela interferência dos apoiadores. Hoje, os dois homens são creditados com a descoberta de algo sem o qual a engenharia e a física avançadas seriam impossíveis, deixando os detalhes confusos de sua disputa sendo deixados para os historiadores refletirem.
6 – Os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural
Embora tivesse de compartilhar o desenvolvimento do cálculo com Leibniz, Newton pode reivindicar a teoria da gravidade para si mesmo, e é no Principia (publicado em 1687) que Newton apresenta a lei da gravitação universal. Usando a geometria clássica e o método de ‘fluxões’ e ‘fluentes’ (o que hoje chamamos de cálculo diferencial e integral), Newton poderia explicar não apenas a queda de uma maçã, mas trajetórias balísticas, as órbitas de luas e planetas, e as movimentos das estrelas. Com ‘Principia’, a física deu um grande salto à frente. Como disse o poeta Alexander Pope, ‘A natureza e as leis da natureza se escondiam na noite; Deus disse ‘Deixe Newton ser’ e tudo ficou claro.’
7 – Mecânica quântica
Enquanto a teoria da relatividade (entrada 2) foi o produto de uma única mente, os contribuidores da mecânica quântica parecem um hall da fama da física: Rutherford, Bohr, Planck, Schroedinger, Pauli, Heisenberg, Dirac, Feynman, Gell-Mann, para citar alguns (Einstein também fez importantes contribuições iniciais, mas cresceu para não gostar da natureza bizarra e contra-intuitiva da mecânica quântica). Além disso, foram necessárias várias décadas e muitos argumentos para concretizar a mecânica quântica. As fronteiras da mecânica quântica ainda estão se expandindo à medida que níveis cada vez mais profundos de matéria são sondados por poderosos aceleradores de partículas e mentes poderosas.
8 – Teoria Evolucionária
Provavelmente a entrada mais controversa desta lista, a evolução inspira um debate mais acalorado e animosidade entre seus adeptos e detratores do que qualquer outra teoria científica, mas vamos tirar alguns pontos do caminho. Darwin nunca afirmou que os humanos evoluíram dos macacos; ambos têm um ancestral comum. Além disso, ‘A Origem das Espécies’ (publicado em 1859) só menciona a evolução humana de passagem, por duas razões: Darwin estava cauteloso com a resposta (‘Vestígios da Criação’ em 1844 encontrou controvérsia), e não havia evidências suficientes disponíveis na época para fazer uma análise detalhada da evolução humana. Dito isso, o livro de Darwin trouxe uma clássica mudança de paradigma; nunca mais o homem poderia olhar para o mundo natural ao seu redor da mesma maneira (ou para si mesmo). Quanto a Darwin, com o passar dos anos suas crenças religiosas foram erodidas. Em 1859, Darwin considerou todas as religiões igualmente válidas e criticou o relato bíblico da criação. A morte de sua filha Anne em 1851 aos 10 anos também contribuiu para sua perda de fé, e ele parou de frequentar a igreja completamente (embora nunca tenha se tornado um ateu total). Fazendo pela biologia o que Einstein faria mais tarde pela física, Charles Darwin ganhou imortalidade e notoriedade.
9 – Teoria da Relatividade
Como Newton antes dele, Albert Einstein era um estranho. Muitas vezes confuso e frequentemente entristecido pelo mundo humano, ele considerava os segredos da natureza os problemas mais profundos que alguém poderia enfrentar. Principalmente despreocupado com assuntos mundanos, o gênio de Einstein levou a ciência a alturas incomparáveis. Qualquer um dos três artigos que ele produziu em seu “ano milagroso” de 1905 lhe renderia o Prêmio Nobel; acabou sendo seu trabalho sobre o efeito fotoelétrico que o fez, mas foi a relatividade especial (e em 1915 a relatividade geral) que selaria sua reputação como o maior físico desde Newton e um dos maiores pensadores da história. A fim de redefinir a natureza da matéria, gravidade, massa e energia, Einstein teve que reunir assuntos matemáticos como geometria diferencial, análise tensorial, e a teoria eletromagnética (as histórias sobre as fracas habilidades matemáticas de Einstein são inteiramente mito). Certa vez, quando um repórter perguntou onde ficava seu laboratório, Einstein simplesmente respondeu “aqui” e ergueu sua caneta-tinteiro.
10 – O Ciclo do Anel
Richard Wagner era um homem de gênio temível, caráter duvidoso, fervor revolucionário, nacionalismo ruidoso e ódio racista. Embora sua produção fosse pequena em termos numéricos, sua influência artística foi sísmica, para dizer o mínimo. Sem a ópera de Wagner e seu primo próximo, o cinema não teria se desenvolvido nas formas que conhecemos hoje. Inúmeros compositores, escritores e artistas foram influenciados por Wagner, especialmente sua obra-prima, o gigantesco Ciclo do Anel, uma tetralogia de óperas composta por uma única história. Com base na mitologia medieval germânica, escandinava e islandesa, Wagner laboriosamente trouxe o Ciclo do Anel à existência durante um período de 25 anos, grande parte desse tempo gasto cruzando a Europa conduzindo, fazendo proselitismo sobre seu trabalho e teorias artísticas, fugindo de credores, envolvidos em várias intrigas e escândalos, e compor outras óperas. Em 1876, todo o Ciclo do Anel estava pronto para sua estreia mundial (embora ‘Das Rheingold’ e ‘Die Walkure’ já tivessem sido executadas para o rei Ludwig II da Baviera, para a fúria de Wagner). Wagner construiu seu próprio teatro em Bayreuth, pago principalmente pelo rei Ludwig II. Em agosto de 1876, os chefes da coroa da Europa e várias outras nações além (incluindo Pedro II, imperador do Brasil), compositores e intelectuais compareceram à estreia. Um total de quinze horas de música de colossal grandeza e complexidade técnica inigualável tomou conta do público durante os quatro dias de apresentação. Até hoje, encenar todo o Ciclo do Anel continua sendo o maior desafio operístico, exigindo os mais altos padrões de cantores, orquestras, maestros, designers e produtores.